12/03/2009

ARQUIBANCADA

Domingo de sol. De muito sol.
A expectativa começou no dia anterior. Dia de jogo decisivo.
Não via a hora de estar naquela arquibancada. Pessoas esperançosas e confiantes. Críticas e desconfiadas.
Mas o momento do time era muito bom, o que motivava a torcida a invadir todos os espaços do estádio.
Não daria outra: arquibancada lotada era diversão garantida.
Logo pela manhã eu já estava acompanhando pelas rádios o desenrolar do espetáculo, detalhes de cada time e de como já estava a chegada da torcida ao estádio.
Preparei-me como manda o figurino: camisa branca do time, que atuaria com a camisa número um, boné, calção e tudo mais. Menos a bandeira, que disso as torcidas organizadas preparariam com grande competência.
Chegada ao Pacaembu é algo mágico. Dos guardadores de carros num frenético gestual de orientação aos motoristas, para depois achacá-los com propostas de preço para “olhar” o carro até aquelas barraquinhas com um odor penetrante do sanduíche de pernil.
Naquele bairro nobre e de classe alta, a torcida invade sem cerimônia, cheia de alegria e descontração.
Parar na barraca da D.Estela e comer o tal sanduíche com uma cervejinha gelada é a minha tradição. Ali, já fico sabendo de várias novidades que nem as rádios ainda sabem. E vejo passar muita gente.
Desde aquele fulano estranho, desconfiado, até famílias inteiras ligadas pelas mãos que estão vermelhas pelo aperto firme na busca de não se perder.
E o Sol insiste em fazer a tarde ainda mais bonita. E quente.
Despeço-me da D. Estela que, rindo em sua simplicidade, me diz que um sanduíche especial me espera na saída.
Começo a andar em direção dos portões principais, quase que arrastado pela multidão.
A chegada é um pandemônio, um empurra-empurra de todos os lados até que, a muito custo, se consiga chegar às catracas que, misteriosamente, não funcionam.
Passando catraca, passa-se pela revista, nem sempre gentil, mas necessária, me diz um policial com cara de poucos amigos e, provavelmente, torcedor do rival que joga em outro estádio nesse dia.
Passando daí, chega-se ao campo. E a entrada então é uma visão linda: o campo verde se anuncia como um palco preparado para oferecer fortes emoções.
Olhar para trás e para cima, é impressionante: uma verdadeira multidão, repete síncrona as frases feitas, os refrões e, como num espetáculo de dança, todos movem-se ao sabor da coreografia nada ensaiada, mas que se mostra muito bonita e empolgante.
Subo ansioso, buscando um lugar com uma boa visão do campo, e chego ao meido da arquibancada, lugar do povo e da torcida mais apaixonada, miscigenada e, paradoxalmente, desconhecidos são amigos, quem nunca se viu, conversa animadamente, como grandes companheiros.
E é aí, nesse ponto, que se entende porque o futebol é apaixonante.
Entram os times. A aparição da primeira camisa branca na saída do túnel dos vestiários é um estouro de alegria e paixão. A torcida grita, freneticamente, o nome do time: TIMÂO E Ô, TIMÂO E Ô... para depois gritar o nome de cada um dos atletas do time em campo.
E segue o espetáculo: apito inicial, primeiros passes. Suspense em um ataque adversário, para depois sentir o alívio de um ataque que dá em nada.
E a torcida, com o sol quente na cabeça acompanha a tudo: incentiva, xinga, elogia, reclama.
O artilheiro que tantos gols fez, vira perna-de-pau no primeiro gol perdido, para, como magia, virar gênio no lance seguinte ao driblar o zagueiro adversário, mandar a bola na trave e fazer explodir a galera em um uníssono Timão e ô... que não se encerra.
E a cena do jogo, que classificou o Timão para as finais, estava fora dos gramados.
No intervalo, olho serenamente para aquele mar de camisas brancas arquibancada abaixo quando passa, como um pássaro voando velozmente, um objeto que se espatifa nas costas brancas de um torcedor já agitado pelo gol que insistia em não sair. Aí consegui ver que alguém, lá de trás, atirou um picolé de chocolate para frente, sem um alvo definido, mas que certamente atingiria um incauto qualquer.
E foi certeiro: a camisa branca ficou manchada pelo chocolate voador.
Após o impacto e, claro, o choque, a reação foi intempestiva.
O amigo virou para trás e, a plenos pulmões gritou:
- Quem foi o filho da puta que jogou essa merda?

Entre os muitos risos, gargalhadas disfarçados e comentários em tom baixo, se ouvia apenas o barulho da torcida mais distante desse lugar.
E ele repete em tom desafiador:
- Primeiro o bundão atira um sorvete de chocolate e agora foge, né? Aparece aí... quero ver.
Pedido feito, pedido atendido.
Ouço então uma voz grave lá em cima:
- Fui eu, por que?
Viro rapidamente para saber quem foi o distinto cavalheiro que cometera tal ato e, estupefato, vejo um homem de uns dois metros de altura e mais dois de largura, daqueles tipos guarda-roupas de porta dupla. Seu olhar era desafiador, embora até hoje eu acredite que ele não fizera aquilo, mas que estava disposto a entrar no caso.
Com um riso disfarçado, ele repete a pergunta ao atingido, ainda surpreso pela revelação que se apresentou:
-Fui eu mesmo que atirou o sorvete de chocolate. Algum problema?
Ao que responde prontamente o moço, ainda tremendo em suas pernas finas:
- Tem problema sim. Eu prefiro de limão.
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